Dos vários tipos de discriminação sofridos pelas minorias, observo que a discriminação contra a mulher ainda é muito velada. Por mais que o movimento feminista seja amplamente divulgado e reconhecido, há muitas ações e atitudes que atingem a liberdade da mulher que não são facilmente perceptíveis de tão arraigadas que estão em nossa cultura, em nossas tradições, em nosso discurso.
Esta música de John e Yoko polemiza bastante a questão da liberdade da mulher, escancarando o quanto ainda estamos longe de sermos livres, o quanto o papel que a mulher desempenha ainda não é questionado o suficiente, o quanto nós ainda nem sabemos direito o que é ser uma mulher livre.
Quase quarenta anos depois de seu lançamento, eu ainda convivo com mulheres - e eu ainda sou muito essa mulher - descrita na música. E percebo que ainda tateamos em busca de nosso verdadeiro valor, longe dele, muitas vezes pensando tê-lo encontrando em lugares equivocados, nos pensamentos equivocados, na insegurança, na baixa auto-estima, nas mensagem que internalizamos que nos dizem para continuarmos assim, pois é mais seguro.
Ainda temos muito medo de sermos estigmatizadas, de sermos taxadas de "masculinas", "putas" ou "solteironas". E por isso nos submetemos a muitos comportamentos considerados "femininos" - descritos na música - para nos sentirmos mais seguras. Mas quer estigma pior que ser a escrava do mundo para não precisarmos viver todos os riscos de uma vida livre?
Tradução:
A mulher é o negro do mundo
Album: Sometime in New York City, 1972.
PS: Obrigada Nat, pela sugestão da música!
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